16 de junho de 2013

"Homem nu é achado vivo nas margens do Rio Infindo."
"Acusado de andar às margens do Rio Infindo, homem nu pesca, caça e se alimenta."
"Homem-do-rio dorme nu à noite."
"Homem-do-rio, ao tomar banho nu no rio, assusta a população local."
"Homem-do-rio não mostra pudor ao urinar e defecar nu."
"Polícia investiga os hábitos do homem-do-rio nu."
"Padres e gurus e xamãs estudam o morador do Rio Infindo."
"O caso do Rio Infindo: polícia pede ajuda a parapsicólogos."
"Homem-do-rio é visto conversando sozinho em língua desconhecida nas margens do Rio Infindo."
"População se assusta com a língua estranha do morador nu do Rio Infindo."
"Polícia investiga a História do homem-do-rio."
"Polícia investiga a Origem do homem-do-rio."
"Polícia investiga a Língua do homem-do-rio."
"Padres e gurus e xamãs e polícia e parapsicólogos se unem para estudar o fenômeno do morador do Rio Infindo."
"Furo! Desnudada toda a Verdade sobre o homem-do-rio nu."
"Homem-do-rio nu se banha pela manhã."
"Homem-do-rio nu caça à tarde."
"Homem-do-rio nu dorme à noite."
"População está revoltada com a conduta da Inteligência com o caso do nu do Rio Infindo."
"Inteligência diz que se valeu de meios legítimos para vestir o homem-do-rio com a sua Verdade."
"Rio Infindo é palco de acontecimento: morador desnudo desaparece."
"Testemunha diz que Homem-Infindo se dissolveu no Rio Nu."

12 de junho de 2013

(vô, lembra de quando íamos à sua casa, casa da vó, mas também sua, nas visitas felizes de quem morava longe, e a gente tomava mineirinho no gargalo da garrafa de vidro, o gosto dos marques e deixes da nossa família, deixes que vinham nos barquinhos de jornal que era um hábito antigo seu com meu irmão, vô, e que eu não via muita graça, e o aparador em frente à mesa da televisão, visão mais futura do que seria a família e que ninguém saberia dizer por quê, e o aparador cheio de barcos, lindos, seus, que nunca acessei para dizer nossos, não sabia fazer barcos de papel, só avião, mas mesmo assim, vô, mesmo assim, participava daquilo, via os barcos montados e me angustiava, aquele hábito que não era meu, nunca acessei, me endereçava e interessava pela programação triste da tv pra fugir dessa emoção toda de ter a nossa família unida, eu, você, meu irmão, meu pai, você mais sincero se dava aos choros, sem nenhum soluço, vô, por que não deixar sair a fala?, e eu me assustava, pai do meu pai aos choros, todo comovido, que homem, acabamos todos assim, que será que ele segura?, e entendia a sua seriedade de sempre, é não deixar sair para a coisa se perder por si, é preciso resistir, vô, é assim mesmo, se sair água, os barcos vão embora, aparar a dor além dos nossos lugares de irmão, filho, neto, pai, homem. então segura, vô. e me desculpa hoje, que hoje eu choro também, e me desculpa hoje, que eu seguro também, e me desculpa hoje, que sei fazer barcos de papel, e me desculpa hoje, que compro mineirinho no supermercado e bebo sozinho, e me desculpa hoje, que hoje eu sou o da visão do telos.)