26 de março de 2015

em silêncio

ir embora
embora ir
ao encontro de
(de encontro a)
ti
mim.

17 de março de 2015

pelos pudores que a sedução trai frente ao que se cobiça como fragmento de si no outro.
e o perdão negado por caber juízo à indecisão do estado em que se firmam os votos.
pelos silêncios quando impossibilitados de dizer o que faz em uma relação o laço.
e o perdão afirmado à proporção do crescimento dos pêlos no corpo.
pelos abandonos a uma companhia desescolhida por circunstância ou geografia remota.
e o perdão reafirmado esperando que caiba na vida comum um momento.

7 de março de 2015

O diálogo entre o relâmpago e o trovão

– Onde ir?
– Vá à frente!
– Qual direção?
– Onde estiver escuro.
– Você vem logo atrás?
– Onde estiver silencioso.
– Quando nos encontramos?
– No susto e na espera do que estiver no caminho.
– É certo?
– É possível.
– E se não houver susto, nem espera?
– Daí nos encontramos em algo que já espera e, portanto, assusta.

1 de março de 2015

a pouca tolerância à mútua presença ainda nos levará à doença mais próxima do amor. não pelos constrangimentos do contato e pelas pequenas violências que são condição do convívio. não pelo desencontro que faz com que cada tentativa nossa de diálogo se abra em mal-entendidos da própria linguagem – nada mais enlouquecedor do que o apreço pela leitura dos sentidos implícitos. a doença mais próxima do amor é a constatação de que nós aprendemos nossos nomes tarde demais. daí por diante, é ressentimento, fábrica de nova ilusão em ter ainda crença, ainda que oscilante, em saber amar, sentir-se amar, para então ser verdadeiramente amado. não haverá descanso ou respeito à intimidade até que atravessemos novamente esta fome. esta fome criadora que nos fará, então, tu e eu.