30 de maio de 2015

me vi animalesco em uma famosa cidade qualquer em frente a uma praça sob a lua e cansado das grandes caminhadas movidas pela escravidão de olhar na condição de turista em busca de uma prova que poderia constatar presença em território estrangeiro além de ímãs e chaveiros temáticos comprados às pressas sob o selo de registro de uma experiência desenrraizada dos dias comuns em que vivi no que ingenuamente chamo de minha cidade tendo por subversão o minuto em que inventei uma posse de uma cidade ou um rosto para a ilusão de eternidade enquanto o mundo ria do meu desconforto frente à câmera e extraía uma imagem eu rosto oleoso e sorriso falso escorado em um parapeito com o fundo do que você indicaria como arquitetura única seguido de um silêncio acusador diante do desinteresse que não escondi pela então nomeada belíssima e excêntrica catedral de são basílio

25 de maio de 2015

ronaldo dionísio da costa
nascido em 1979
des-apareceu em 1988
aos 9 anos
em planaltina, df

hoje com mais de 35 anos
não se sabe se
o menino ronaldo
tem ou teria
história e família para seu não lugar

notado em ausência
dezessete dias depois de seu aniversário
um feito dionísio
decidindo se demora
o tempo de outra vida

denotado pela
secretaria de estado de desenvolvimento social e transferência de renda
dá as costas
ao rosto em cartazes
à busca do ainda buscado

nem por quê, por quem
nenhum rastro do ter sido
mais de 25 anos de procura
talvez por um nome (que resta)
ronaldo dionísio da costa

15 de maio de 2015

esta abelha rondando sua orelha
me faz imitar zumbido, querer ser
igual falar bem íntimo
beber da sua coca-cola
nadando bebendo afogando
fugir do seu gesto vai embora
mas voltar eu-abelha
ferrar braço e perna
por instinto por paixão

10 de maio de 2015

gato olhando buraco de prego

com desejo na
parede, faz, sem ver, crer.
sombra enganada.

5 de maio de 2015

marli se levanta cedo e passeia benedita todos os dias
antes do café
antes do jornal
antes do barulho da cidade
marli e benedita conversando: quem é a lindeza da mãe?

e como marli gosta
de como deita e rola feito gente ou bicho
na terra, na grama úmidas
cuidado benedita! as formigas
benedita feliz por quase nada

marli beijabraça benedita todos os dias
antes do trabalho
antes do mamãe-já-volta
antes da saudade
marli e benedita assistem à novela das nove juntas

e como marli gosta
de como o ônibus vai cheio e jovem
para a universidade, para a esmola
eternas
benedita cheia de notícias por quase nada

marli chora três filhas e marido mortos todos os dias
antes dos comprimidos
antes da tv
antes da solidão
marli chorando e benedita uivando solidária

e como marli gosta
de como o tempo passa e demora
na casa, na cama
vazias
benedita esperando e contando as horas