22 de março de 2016

minas ou são paulo ou tristeza

quando assim em um estado turvo de espírito, já de costume antigo, nos encontramos, de passagem você de moradia eu, nesta cidade devido aos encaixes de um destino indevidamente acidental, tive a impressão de que seríamos ainda os mesmos. ilusão antiga dos paraísos de terra postos em água, o desastre de mariana a mudar nossas essências, tão distante hoje do que somos. tamanha lama para o que é só tempo comprimido em memória. apesar de mim, ainda preservei alguma crítica à razão para guiar as circunstâncias, sem entregar à angústia o juízo demandado. apesar de nós, ainda preservamos alguma crítica à comunhão para separar privacidades, sem forjar à ocasião o afeto esperado. apesar de você, ainda percebi preservada alguma opinião à vida para ir embora assim que fosse sábado às duas da tarde, sem integrar o contato a alguma aprendizagem possível. mas quando vi você devorando a luz branca da tela de seu celular, perdida entre as imagens como alguém que se olha profundamente no espelho, senti um desprezo irresistível diante daquilo que nomeava como você, visita fora de hora. o sentimento desterritorial do aeroporto caía bem à sua aura cosmopolita. se você me perguntasse pelo que estava acontecendo, pela minha cara, tanto desespero por quê?, responderia sintético que a vida continuava na mesmice, sem o agravo da tristeza que é morar em um iphone.