30 de maio de 2016

ô, ana paula, facilite, faça o favor de deixar menos sofrer a este rapaz que encontrou uma lata de tinta spray e marcou as placas das rodovias, este rapaz que encaroçou e portanto fez algum voto declarado por meio de sinalizações poéticas, entre "não ultrapasse" e "me perdoa me liga", "fim da pista dupla" e "volta longo", "respeite a vida" e "ana paula saudade", este rapaz que talvez nem saiba o valor da solidão mas que, ainda para os olhos e as fantasias dos viajantes que tangenciam as cidades de guarda-mor, vazante e lagamar, ama você e espera você.

7 de maio de 2016

algo inesperado, vi você em um outro corpo. cabelos cortados conforme os ditames da moda, roupas sóbrias que talvez lhe cairiam bem. um movimento calmo de passar a mão nas sobrancelhas enquanto falava sobre o chiste de heine citado por freud no mal-estar na civilização (tive vontade de dar um soco na sua cara quando riu mas se gabou secretamente da própria capacidade de se recordar da imagem bucólica que se converte em vingança). reparei em algumas pintas bem localizadas no seu pescoço, casa antiga minha. os seus cantos de boca estavam borrados, como que dissolvidos na superfície da pele do rosto. não senti saudades. não consegui sentir. apesar da curiosidade um pouco absurda, achei que faria mal em pedir notícias. soube assim de intuição que você ainda se recusa a ficar em silêncio quando sem assunto e a usar hidratante labial, como quando éramos. houve algum acerto.