6 de abril de 2016

jair

no dia trinta e um de dezembro de dois mil e quinze, esteve no bar, com os amigos, comemorando o adeus ano velho, feliz ano novo. não se lembrou de levar o celular para cumprimentar a noiva, o filho e suas irmãs na passagem. fez duas promessas, sair do emprego de vigilante noturno e fazer o curso da protege. ficou triste quando pensou nos moradores do bloco. ficou alegre quando pensou na carreira de segurança particular. chorou quando tocou love of my life, do queen, "aquela bicha do mercury canta pra macho". esperou dar duas horas da manhã para voltar para casa, trânsito. decidiu meio bêbado pagar a conta. abraçou todo mundo. brigou com o dono porque estava pagando coisa que não bebeu. fez um gesto bruto de pegar algo no bolso para pagar mesmo assim – e morreu com dezesseis facadas. um foi um susto, estava procurando dinheiro. dois sentiu uma náusea muito forte. três um líquido quente escorrendo. quatro uma dor na barriga. cinco a respiração fugia. seis escutou um rojão e sentiu cheiro de pólvora. sete bateu a cabeça quando caiu no chão. oito ficou tudo escuro e silencioso. nove foi criança correndo atrás de um carro. dez beijou sua primeira namorada. onze foi pai e descobriu a felicidade. doze entrou para o exército. treze as madrugadas em frente ao estacionamento do mcdonalds. quatorze era morto. quinze já estava morto. dezesseis teve seu cadáver perfurado pela segunda vez.