16 de julho de 2023

diálogo

— explica-me a diferença,
ó, sábio dos sábios,
do dentro e do fora,
porque sei o que vejo,
mas não vejo o que sei.

esta cadeira é uma cadeira
porque a vejo fora de mim;
concluo desta maneira
que não há em mim cadeira,
apenas um traço de seu fim.

— ó, aprendiz dos aprendizes,
é simples a explicação:
quando vejo uma cadeira,
sei que é uma cadeira,
mas poderia ser que não:

uma cadeira poderia perder
seu assento, seu espaldar
e ainda assim ser cadeira:
basta seu fim poder
em algum lugar estar.

— o que é uma cadeira,
senão uma afirmação?
ó, sábio mestre,
ela está dentro ou
fora do meu coração?

— a cadeira é e está,
bem como seu coração,
simplesmente, sem parte:
sente-se, ó, filho da dúvida,
para entender sua arte.

— na cadeira me sento,
já escuto seu sim;
agora sei, ó, pai sabido,
de pronto seu fim:
uma cadeira a contento

é fruto do pensamento! amém!
não vejo o vento, sinto sua festa.
uma cadeira pode também
não ser vista como esta!
assim é ou me prega peças?

— quanto à cadeira, afirmo
que não sou de enganos, ilusões:
sinta bem a cadeira, sem diasirmo!
desfrute: pense nela de maneira
que não seja pouso para suas aflições.

estando sentado e sem comoção,
descobrirá qualquer hora
que todo dentro é um fora
e que qualquer filosofia
serve de cadeira ao coração!