7 de abril de 2017

eu tentava educar os sentidos às notícias que contávamos como se fossem importantes, realmente importantes. eu tentava, até felicitarmos em segredo os saltos à grande melancolia que nossa presença implica mutuamente. sentimento de nada-novo-sob-o-sol. conversando a mesma conversa, evitando os mesmos assuntos, sempre. até nos perdermos, quase infantis, em detrimento da vida de responsabilidades e obrigações, na ternura de nossos saltos. ainda não romper com os círculos de silêncio entre nós. nenhum golpe de sorte nos salvará do desencontro. depois de tanto tempo penso aflito sobre o perfume impregnado que me fica no nariz quando nos cumprimentamos. sobre o pinicar de sua barba no pescoço. sempre nos encontramos depois de caminhada ou sol forte, nada novo, os cheiros à mostra, indecentes. os corpos detidos após o abraço. observo impune a textura granulosa de sua camiseta nas regiões demarcadas pelo suor, o volume dos pelos apertados contra o tecido. fantasio paraísos mentais para fugir, como qualquer um. em desmedida, concluo rápido que nada acontecerá: optamos por perdurar ainda o silêncio. lamento a inescapabilidade da inércia, do não avanço. por imprudência e desejo, compenso sozinho, lamento, sinto inveja dos desodorantes, dos sabonetes, dos barbeadores, das cuecas.