24 de outubro de 2019

pós-banho

cheiro de sabonete
formas embaralhadas à
estampa da toalha enrolada
à cintura pele úmida
no rosto os poros distensos
reflexo turvado por vapor
d'água pairando sobre
minha expressão fugidia uma
fresta desembaçada torna
visível a espuma os ossos
que apontam do outro
lado o outro (o que separa
o desamparo da onipotência
é um risco) vejo um rosto
pouco barbado meu olhar
incisivo sobre o desenho
o trajeto a altura dos pêlos sempre
tão próximos às linhas azuladas
que se guardam a correr
por dentro um medo se
ajusta (de perder a medida
o ritmo) enquanto decido
por trato ou acabamento
do excesso à escassez
pauso e espero
nas mãos o navalhete
que em cordato pulso e
aberto para a lâmina
(não escorrem ainda
as linhas fechadas)
já fixada impõe o corte
rente e exato como
estes versos também
mal aparados