4 de junho de 2018

melancoilha

emerge
coisa na água boiando
solo negro e desolado
apartada dos nomes, da terra constrangida
sem margens certas
visível aos ventos
nadas: horizontes, sóis, luas, colunas de neblina
desaparecem, aparecem
monotonia das nuvens, dança das torrentes
existe insulada
sem cães magros e esguios
sem anjos entediados em meditação
compassos, mapas, réguas, globos
sem a morte a cavalo pintando de roxo os campos
sem espelhos prateados
sem a luz contaminada de deus
apenas a violência da natureza
os desastres à vontade
residência de um só
sem mundo
caído de nenhum céu
produto de crueldade alguma
o tempo imóvel gotejando os dias
distraindo-se de si nas praias escuras
pensamentos confusos
visões de correspondências
sem prazeres
o prazer mórbido da ausência de prazeres
o homem, este homem
espontaneamente
não encontra no universo
um sentido para os signos
um símbolo à altura da ausência dos nomes
preenche-se com areias soltas névoas brancas
sideração perpétua sobre as espumas
pudesse criar mitos sobre a origem e o futuro
pudesse inventar uma gente de sangue leitoso e ralo
pudesse curar desesperos com a calmaria do tempo
maldições: não vacilará ante os próprios passos, não haverá caminhos
não divagará a mão sobre a cabeça de seus filhos, não haverá prole
não sorrirá às mulheres, não haverá companhias
não se ombreará aos outros homens, não haverá outros
não construirá civilizações para executar com razão a barbárie, não haverá casa que não seja ilha
sob as paisagens o homem desce a si
rente a si a ditar a própria queda
lança-se ao curso dos vapores
traça um rastro que não se segue
uma cortina vertiginosa de fumaça o veste
nenhuma nostalgia nenhum ódio o acompanham
talvez um poema aguardasse ser achado nestes nadas
vindos os segredos escondidos nos versos
os nomes arrancados da espera por nomeadores
o homem, este homem apenas reconhece a si mesmo
reverencia a si mesmo, honra a si mesmo
contempla-se no silêncio antecede sua pergunta
"de que servem fluidos, terras,
horizontes, sóis, luas, colunas de neblina?"
e submerge