24 de novembro de 2018

angústia

seus olhos escuros mãe obscura
lúcida descoberta
o português é provisório
da que tenho dentro da boca
ganho um nome a ser fazer próprio
dou ao mundo este órgão
em busca de um livro de segredos
textos luminosos páginas brancas
balbuciando a reza que ouvi dentro da água
mãezinha do céu eu não sei rezar
só sei dizer eu quero te amar

aprendo este amor
sou tornado usuário
de uma língua que não sei o nome
materna maternal
tomo de empréstimo as palavras
para as coisas os pensamentos
os sentidos não visíveis
um nome é necessário mas nunca suficiente
há ainda um mal
impossível de recobrir
haja portanto fé

obscura mãe seus olhos escuros
uma religião se anuncia
em casa uma canção ingênua
e a morte a ser conquistada
por não derrubar paredes
e restar um corpo feito para depredação
"um dia vou cortar sua língua fora"
definitivamente
e cantando com voz de me ninar
azul é teu manto branco é teu véu
mãezinha eu quero te ver lá no céu

17 de novembro de 2018

alguma leveza

receber com tímidos passos o pesar
dos homens que não sabem dançar:
dois pra lá
dois pra cá