20 de abril de 2018

às pressas, na vontade de esquecer, foi criado um porão. abismal e opaco, feito para guardar e amortecer tudo do tempo. caído da paisagem do mundo, se encheu do que não se emprestou sentido e hojedorme gigantesco. ressoa em seu sono alguma história interrompida, reverberando bandejas de prata de um casamento que não vingou, caixa de ferramentas que não tem dono, livros escolares que não educam ninguém, uma cadeira de balanço que simula o ambiente uterino, carrinhos de controle remoto que não são mais brincados. o porão fica próximo à memória da pele, mas distante do toque possível do despertar, do arrepio. e sonha como uma tempestade no ferro velho. sonha com seu criador, deixando vestígios ao ranger em seu sono. às pressas, a tensão que o fecha treme, recua ante os convites à claridade e as recusas dos mistérios. o porão ressona já cansado de circular a morte. fechado, o porão é tentativa de não escutar o ruído que as coisas fazem quando estremecem ao gosto da imaginação e do silêncio. aberto, é eco da loucura íntima do que é de som e escapa: você é aquilo que apaga (apaga aquilo que há) você é aquilo que você apaga (apaga aquilo que há) você apaga vogê paga (apaga aquilo que há) você apaga o quê (apaga aquilo que há) apaga aqui(o que há) apaga aqu