29 de outubro de 2017

onde está joão lucas | com curiosidade nos olhos | caretas para a câmera | o sorriso colado na boca | os braços caídos aos meus | onde | onde estava joão lucas | (sentado no sofá) | quando cresci quando precisei | para o amor que não tive | não esperei | onde | onde esteve joão lucas | na minha festa de aniversário | rei leão de todos nós | soprando velas celebrando | ao meu lado mas longe | onde | onde estará joão lucas | depois de esquecido nas fotografias | meu primeiro amigo amor | tia lu tia ju | ainda são tias | onde | onde estaria joão lucas | morando no ouro vermelho | cercado de incensos e ópio | vivendo dentro de montanhas de gelo | vivendo | onde

25 de outubro de 2017

essa leitura que não alinha rima e metro, que se realiza apenas guiada pelo ritmo, estrutura mínima da criação: leitura pouco modulada e tonal, quase prosaica, de versos soltos ou presos na página (que também é pouco lida ao se dar voz alta). leitura de voz impostada, "voz de ler poema", na qual o texto se perde ao se mudar em voz, poema cuja voz se perde ao ser lido em voz alta. teatro: em vez de ler, declamar; em vez de respirar, aspirar; em vez de vibrar, entonar; em vez de silenciar, alternar entre um erotismo errático das letras e um acontecimento que se constrói contra toda a imaginação poética...

se empresto minha voz ao poema, tentando alguma declamação galante, um bom fraseado que me é falso, e que o poema pedia, veja, que o poema pedia, se leio um poema em voz alta, com a devida detenção nas palavras, fico perdido nos versos, entre os versos, fico perdido naqueles que me escutam desorientados pelo ritmo que desconheço do texto. fico perdido diante daquele cuja voz me acusa de não saber ler poemas, então regulador inesperado de poemas e não poemas e que julga que o som bem soado resume o poema. fico perdido naquele que me toma o alcance do texto dizendo que "é assim que se lê um poema", fico perdido me perdendo sem os versos e os sons e o branco da página. perdendo o poema de mim, fico perdido pelo gesto rude e pela poesia impossível daquilo que nos lia tão próximo. fico mais sozinho no amor.