17 de setembro de 2020

autorretrato

à espera de um ato libertário
(expressão de amor próprio?)
este registro do impossivel
do mutável por excelência
vem dar a ver a si
em exibicionismo da abjeção
e fixação fiel do espírito
construído lentamente pelos anos
nada porta o gesto familiar
além da semelhança irretocável
que as linhas encerram
os outros baixam a voz e dizem "são eles"
eis a anti-história a ser traçada
a despeito da nossa incompreensão
nossa, que a ela estamos referidos:

clamante o olhar que se resigna
à escolha da própria contingência
acusador o nariz ossudo e boleado
que aponta sem o auxílio das mãos
emoldurada a boca por uma barba (signo
de descuido ou novo erotismo)
as palavras se silenciam no nó da garganta
à imagem de um objeto que comunica
o escuro desejo de um eu a se dissolver
indiscreta é a dobra das pálpebras
que não arredondam as intenções
penteados estão os cabelos grisalhos
assim se emoldura a violência eterna
definida por meio do rosto
esvaziado e imóvel de nosso pai