1 de dezembro de 2021

retorcidos veios sob o branco
tornados roxos pelo desuso
acabados em nojos amarelos
de bases secas, delicadas
os pés podem um passo incerto
rotas as pernas que vacilam
pouco sanguíneas por
tabagismo e masculinidade
pelo ódio recreativo contra si
as feridas atraem as moscas,
os filhos – nenhuma piedade –,
que reúnem significados diante
do abismo, das necroses
de um corpo que jaz ereto
comprimindo os ossos frágeis
às cadeiras, às histórias
como um andarilho não vagante
decidido ou a esmo faz das
não memórias sua ossatura

diante de semelhada lápide
sandálias gastas de um chinelar
caseiro, arrastado, profundo
o andar vazio entre os incômodos
da casa repassada, repisada
talvez à espera de um passo
em falso, um tropeço nos tapetes
que desmonte este peso num lampejo
(visão fumegante da antiga sala:
os santos descascados, lascados
os terços sem contas, a ausência
ilustrada pelas poltronas, pelo sofá
a cristaleira e seus objetinhos
cobertos pela fina luz da nostalgia
numa mesma suspensão que volta
ao voo do filho, à hora inescapável)
e desfaça a cabeça-cemitério
em estilhaços e rezas de ternura –
conquista, loucura, divindade