13 de março de 2023

floresta, sussurros

este ecossistema familiar dos indígenas, bateado pelos garimpeiros, de correntão e boiada
este tropo medieval em que o mal e o desconhecimento se espelham e nos refletem
não faz ouvir o lamento da mãe que morre, o diabo a cozinhar ou as cores do vento (vovó willow que me perdoe)
pipiar dos pássaros ou ciciar das cigarras encobrem as mais antigas cenas do teatro do mundo
(que me perdoem as aves e os insetos) – noutra linguagem sussurra a bicharada:

botões desabotoados, braguilhas abertas, fricção, comoção!
pungentes vibram os homens seus lenhos de nenhuma cruz (ó, poesia, perdão)
buracos são mãos, bocas, dobras úmidas e pisca-piscas esfincterianos
à luz do dia se faz, entre carros estacionados e moitas, as lori lambys trepadas no parquinho logo ali
(perdão, perdão), um paraíso bíblico ao alcance dos nossos olhos mui terrenos

meditação guiada: imagine uma névoa que paira lentamente sobre uma floresta no fim de uma tarde fria de brasília
você é uma gota do orvalho que se forma, misturando-se à volúpia de fluidos e suores à meia-luz no parque da cidade
sinta sua liquidez transparente envolta de outras gotas tão pequenas como você, unidas em uma imensa orgia revigorante
os cheiros masculinos e a umidade invadem seu corpo de maneira a transformar você em uma brancura espessa e viscosa
agora você é o sexo combalido de um jornalista-voyeur que se masturbou tristemente diante da velha novidade etc.