2 de março de 2017

ao centro do país sobre uma grande pedra plana recheada de cristais
projeto místico talvez pressagiado no sonho de um padre também tomado pelos arroubos modernistas
ansiosa congênita (cinquenta anos em cinco)
erguida por candangos iludidos que foram logo limpados para o entorno de uma capital-oásis
brinca com o olhar de deus
que se interroga avião ou borboleta?
arrogância e sublimidade se confundem nas vias do eixo monumental
linhas retíssimas para homens tortuosos
mais aterrados em burocracia e poder sem escalas
uma cidade-cemitério planejada contra o código natural dos afetos
terra do você-sabe-com-quem-está-falando?
do bom-dia educado que vira acontecimento
a humanidade resiste
no chão fora dos caminhos ociosos das quadras
inventam-se trilhas de terra vermelha
atalhos batidos no meio do verde organizado dos jardins
nas luzes das casas empilhadas ou espalhadas sistematicamente
algo de esperança utópica se cria em meio ao deserto
no cansaço das pessoas tomadas de solidão ao fim do dia
brasília brasília
sempre esquecendo de acolher
a vida de quem não é do plano de quem não tem um plano
mania de horizonte que enclausura tudo todos com arcos concreto carro e céu
grandiosa espaçosa cidade
feita para se sentir pequeno