25 de abril de 2025

"[...]
Faço pensamentos com a recordação do que el[e] é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
[...]
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nel[e].
Não peço nada a ninguém, nem a el[e], senão pensar"
(Alberto Caeiro, "Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,")

é latente a confusão no sorriso automático
algum desespero escapa do olhar sedutor
posa o corpo de delícias e artifícios
a felicidade se finge num jogo luminoso
no qual o cotidiano se mistura à autoexposição
por meio de frases feitas e amenidades

a imagem não registra a imaginação
não se fazem sinônimos amor e pensamento:
o gosto distraído por se fazer vitrine
não esconde bem o desejo de ser desejado
e a vida mesma não se apresenta como tal:
fulgurante, vertiginosa, obscura, inefável

9 de abril de 2025

revisão

lerolhar de novo
de novo
e de novo

até que surja do mesmo
o novo
de novo

(quando acaba?
trabalho infinito?
pelo em ovo?)

olhos já cansados
leve dor de cabeça
querida desalfabetização, [...]

por fim: o texto pronto
revisado, pecável
higienizado, culposo





eis o leitor, verdadeiro novo:
"por que não um omelete?"
"mas não estão no dicionário"

pois bem: uma ou um omelete? (s. 2g. ou sm+f)
o dicionário não encerra as palavras
no entanto nele fazem casa e descansam

"por que não buscar no ovo
um(a) omelete, em vez de pelo?"
"expressões idiomáticas não vão bem" etc.

água mole, pedra dura
quem com ferro fere com ferro será ferido
leia, leitor, sem gaguejar (veja como é arbitrário), sua razão de ser:

casa suja, chão sujo
casa suja, chão sujo
casa suja, chão sujo