9 de maio de 2025

às pressas por me prensar entre os minutos ou por qualquer atraso inventado, sem a calma que asseguraria a atenção e a prudência em ir pedalando, às pressas como se contra a noite e pouco amparado pelas luzinhas da bicicleta, com o acúmulo do dia se esvaziando por meio das pernas e do uivo do vento aos ouvidos, às pressas diante dos carros que envelopam o corpo, tão maiores e vorazes, enquanto esta matéria frágil quase ignora a si mesma para fazer movimento, às pressas descendo a rua sem saída da garagem da viação da cidade, ao lado um descampado de mato alto e terra revolvida, às pressas guinchos de corujas e estrídulos de grilos, a beleza sinistra da vista da cidade logo após a hora de maria, chão e ar tremendo pelo motor do trem às pressas vindo, vindo, vindo, às pressas outro tempo se impõe: espero desmontado e à beira – medo e hipnose pela máquina – passar pelos trilhos – sentir sem olhar de frente: vagões se deslocando: buzinas alongadas – freios estridentes – assobios explosivos: quantos? – e sigo.

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pare, olhe, escute. na ruidosa calma que lhe é própria, segue indiferente à sua própria proporção, ritmando sem escutar, como um metrônomo maquinal que se ecoa pelos próprios trilhos. anuncia-se junto ao badalo de sineta em crescendo, em grandioso ribombo de pistões e freios, dando mostras de apertos e alívios de compressões, calmamente. seu conjunto emula qualquer ideia sinérgica de ordem, sequência e união. os trilhos servem de cenário para ensaios fotográficos e metáforas de gosto duvidoso. ainda, os trilhos servem de caminho ou ponto de referência para os geográfica e existencialmente desbussolados, à beira. e o maquinista, iluminado pela luz azul do monitor de seu painel de observações, diverte-se buzinando sua inconveniência, mas mais contido à meia-noite. fosse sangue, seria parte de um sistema sanguíneo-ferroviário que marca o passo da cidade-coração. afinal, funciona como um relógio que conta a si mesmo, aproveitando-se em alongamento espichado de pura horizontalidade, carregando mercadorias e, portanto, delírios de ser parte da ideia de locomotiva de um país. portanto, não é menos do que uma sucessão de vagões, isto é, uma tristeza alegremente cativada em sua alienação, uma síntese ontológica da alma da cidade, um corpo que não dói e em constante trabalho.