3 de novembro de 2013

devaneia o estrangeiro em bruta melancolia deitado confortavelmente em um sofá a desejar tomar chá com quem o ama ou supõe amar imaginando sobre uma possível vida que não acontecerá se não for uma escola ou uma passagem ou um desarranjo de hipóteses formulando cenas cônjuges nas quais

atos cheios de ternura brevemente resumidos em fazer almoços ou jantas felizes e sorrisinhos e suspiros ao fatiar os vegetais ao refogar e cozer os grãos e outros vegetais ao temperar as folhas e juntá-las a uns outros vegetais e ao espremer o suco das frutas ou ao destampar a embalagem plástica do suco industrial e ao questionar a categoria dos vegetais que não se sabem tomates-abóboras-bananas-chuchus-maçãs-alhos-uvas-cebolas-goiabas-vagens-laranjas-quiabos-etc-etc-etc

fins de tarde tristes de programação de tv apocalíptica da globo que seria substituída por uma conversa ao agrado da erudição de nossa preguiça dominicais ou de nossa compulsão à intelectualidade ou de nossa incompreensão acerca da substituição dos objetos de alguma histérica importante em nossas vidas

noites escuras para se dançar um jazz sensual coladinho e que no auge do saxofone haveria uma coreografia destoante pura subversão artística cabível à circunstância que seria tomada como vergonhosa no cotidiano quando na verdade na verdade a vida nossa seria assim só de ridicularidades que o amor faz fazer e que tendo ele passado permaneceria somente a vergonha e os hábitos de refeição televisão e louvor à estupidez.