8 de janeiro de 2015

_ecepção

à prova, o anfitrião se põe como alheio ao seu próprio lugar: cede, empresta, oferece, doa. o anfitrião se põe cansado de seus préstimos e dá aos cuidados rumo próprio conforme a expansão do hóspede. a casa reduzida às satisfações biológicas, o anfitrião se põe como hóspede da animosidade de seu modo de viver assemelhado ao da visita: que também é rotineiro, que também é caseiro, que também é intolerante ao caos, que é, contudo e principalmente, também paternal. quando o anfitrião se põe paterno, assemelha-se ao inimigo próximo que ronda seus medos de ausência de rotina, nomadismo e desorganização: reparte a função em várias pessoas, dilui-se. assim, abdica de seu poder em nome de uma criação plural, na qual todos os modos de viver são apresentados e curiosamente rechaçados de sua hospitalidade: um pai recepciona. sendo o pai um anfitrião, põe-se como provedor, extrato bancário abastado como única virtude. sendo o anfitrião um pai, põe-se influente somente na medida em que deslegitima quem ensaie as boas intenções em ceder, emprestar, oferecer, doar: um pai decepciona. assim resta: homem frágil, apegado a qualquer virilidade frágil.