8 de agosto de 2017

parada

abram abram alas
o poema vai passar
cheio de plumas de rasuras
espaço! abertura!
é grande a criatura
vejam ele lá

extravagante vem
galopando selvagem vem
uma cabeça outras mil e cem
seis mil braços pernas bocas olhos
é um monstro! melhor
rezar pai-nosso amém

o poema vem vindo
atenção há tensão
para os versos para os sons!
cuidado com seus corações
é um bicho que come de tudo
sentimentos sobretudo
crianças velhos e pães

é alta e feia a criatura
caminha com alguma formosura
mas tem as pernas tortas: tortura!
há lá sua elegância
um metro estranho: extra vagância!
exibe rimas e ternuras
mil dentes trinta mil unhas
todas sujas todos gastos
seus estilos? velhos! ritmos? fracos!

o poema vem vindo
chegando e vindo diz assim
com uma voz horrível
sem fôlego e carmim:
"corr am! fuj am! ráp-id-o!
esp-a-lh em-sep ar...a lo-nge
vem v in...do v em ta mbém
o MUN-DOa trásd emim!"

apostem em suas pernas!
fogo! água! tragam
água pro fogo! há
mais fogo para a água!
o mundo o seguiu! imundo!
o poema não conseguiu
descobrir a charada:
o que é se acende
quando se apaga?

acudam! corram todos
vão pra casa! já!
perigo outro monstro maior
vinda enorme ainda tarda!
O MUNDO! quer saber o-que-é-o-que-é
se ele também chega
e não há gente fugida
ai! não vai sobrar mais nada!

passa! nem poema nem amor!
"sariema rima com dor?"
escapole daqui! fugir!
a charada, a resposta
posta a aposta
pés pelas mãos corram
pernas corram pernas pernas
é a vida é a vida