a coleção moraes-barbosa
lançou em 18 de janeiro de 2025
a versão brasileira de
dial-a-poem, de john giorno
com curadoria de marcela vieira,
o projeto reúne leituras de poemas
feitas por diversas vozes contemporâneas
em parceria com a empresa vivo
os diversos selecionadíssimos poemas
têm como denominador comum o erotismo
tema caro à investigação artística
do badalado multimedia artist
podem ser escutados em todo o país
através do número 0800-01-POEMA
ou, para quem está fora e internacional,
através do +55 11 5039 1344
os timbres das vozes imprimem modulações
outras aos poemas performados via telefone,
complexificando os sentidos possíveis
nesse cruzamento de linguagens etc.
pois bem: sentei-me confortavelmente
reuni a dispersão do meu ser em um ponto,
concentrado para a ligação-experiência,
afinal não é sempre que etc.
barthes intuía o grau 0800 da escrita?
a alteridade de lévinas imagina tu-tu-tu?
o que george bataille acharia do sexofone?
alô, lacan? é claro que sim!
discado o número, celular à orelha,
esforço sublime, sensibilidade aguçada:
a face do erotismo, brasileiramente:
"telefone temporariamente fora de serviço"
frustrado pelo mau gosto da realidade,
então a vida é dura, sem beleza?
sugestão da amiga muito amiga:
"consegui neste número: +55 11..."
descrente e como que por distração,
redisquei. de supetão: arte, à mão:
"flora thomson-deveaux. cabo machado, de
(boca bem cheia), mário de andrade
cabo machado é cor de jambo, (pausa curta)
(um pouco solene e alegre) pequenino que nem
todo brasileiro que se preza. (pausa longa)
cabo machado (voz aspirada) é moço bem bonito [...]"
logo mário? cabo machado? será?
quais seriam os outros, as outras vozes?
cinquenta e quatro poemas eróticos
para cinquenta e quatros vozes erotizadas
eis a obra como um call center de poetas
em que serviço público se mistura à arte
ruminando a velhanova questão:
o artista é um trabalhador? (a artista com certeza é)
não sei se como para um número qualquer
ou ainda para um número de emergência
ligo de novo dessa vez mais esperto
disposto a qualquer excitação:
"horácio costa (grossura, calibre). velhos
(sibilação alongada), de minha autoria
(silêncio, o poema assim se avolumando)
descendo a rua mato grosso, em higienópolis [...]"
não consegui exatamente escutar o poema;
algo como roberto piva de bermuda azul coxeando,
números no painel de um carro que envelhece,
tomie ohtake como tesouro nacional, saramago etc.
parecia uma crônica semipoética (não gostei)
em que comentários anedóticos se misturam
à velhice de um homem (horácio costa gosta?);
a voz (o verdadeiro poema), a voz, no entanto
27 de janeiro de 2025
disk-poesia
21 de janeiro de 2025
vem como viria já prenunciada desde antes:
(céu acinzentando salpicado em chuvisco)
idade somada a um coração envelhecido
– corpo enfermo, alma enferma? –
fez ver nas imagens o rastro de um toque,
mancha difusa já muito apegada aos pulmões
contra o gozo dos irônicos e dos tabagistas,
(aura enfumaçada alguma, cilindros de oxigênio)
um último método contra a queda dos grãos:
consumir as horas como um homem de horas
à espera pela visita exata da senhora imemorial
severidade e riso emagrecidos por fim
ainda cronometrando aquilo que passa rente ao tempo
(feixes de sol contra a tarde) para ainda dar ordem:
remédios e copo d'água dispostos sistematicamente
no aparador ao alcance de seus braços-ponteiros –
que se feche o quarto contra ruídos e clarões
como sempre soube: silêncio e penumbra