27 de janeiro de 2025

disk-poesia

a coleção moraes-barbosa
lançou em 18 de janeiro de 2025
a versão brasileira de
dial-a-poem, de john giorno

com curadoria de marcela vieira,
o projeto reúne leituras de poemas
feitas por diversas vozes contemporâneas
em parceria com a empresa vivo

os diversos selecionadíssimos poemas
têm como denominador comum o erotismo
tema caro à investigação artística
do badalado multimedia artist

podem ser escutados em todo o país
através do número 0800-01-POEMA
ou, para quem está fora e internacional,
através do +55 11 5039 1344

os timbres das vozes imprimem modulações
outras aos poemas performados via telefone,
complexificando os sentidos possíveis
nesse cruzamento de linguagens etc.

pois bem: sentei-me confortavelmente
reuni a dispersão do meu ser em um ponto,
concentrado para a ligação-experiência,
afinal não é sempre que etc.

barthes intuía o grau 0800 da escrita?
a alteridade de lévinas imagina tu-tu-tu?
o que george bataille acharia do sexofone?
alô, lacan? é claro que sim!

discado o número, celular à orelha,
esforço sublime, sensibilidade aguçada:
a face do erotismo, brasileiramente:
"telefone temporariamente fora de serviço"






frustrado pelo mau gosto da realidade,
então a vida é dura, sem beleza?
sugestão da amiga muito amiga:
"consegui neste número: +55 11..."

descrente e como que por distração,
redisquei. de supetão: arte, à mão:
"flora thomson-deveaux. cabo machado, de
(boca bem cheia), mário de andrade

cabo machado é cor de jambo, (pausa curta)
(um pouco solene e alegre) pequenino que nem
todo brasileiro que se preza. (pausa longa)
cabo machado (voz aspirada) é moço bem bonito [...]"

logo mário? cabo machado? será?
quais seriam os outros, as outras vozes?
cinquenta e quatro poemas eróticos
para cinquenta e quatros vozes erotizadas

eis a obra como um call center de poetas
em que serviço público se mistura à arte
ruminando a velhanova questão:
o artista é um trabalhador? (a artista com certeza é)

não sei se como para um número qualquer
ou ainda para um número de emergência
ligo de novo dessa vez mais esperto
disposto a qualquer excitação:

"horácio costa (grossura, calibre). velhos
(sibilação alongada), de minha autoria
(silêncio, o poema assim se avolumando)
descendo a rua mato grosso, em higienópolis [...]"

não consegui exatamente escutar o poema;
algo como roberto piva de bermuda azul coxeando,
números no painel de um carro que envelhece,
tomie ohtake como tesouro nacional, saramago etc.

parecia uma crônica semipoética (não gostei)
em que comentários anedóticos se misturam
à velhice de um homem (horácio costa gosta?);
a voz (o verdadeiro poema), a voz, no entanto