5 de janeiro de 2014

o frescor que o ódio traz rompe com qualquer monotonia dos dias; a destruição se transforma em necessidade, operar o caos do mundo pelas próprias mãos é a sedução mais profunda e doentia que os interditos não dão conta - estas condições de sociabilidade velam o mais secreto desejo - de manter oculto. a lei é a palavra irrefutável do dejeto, é a ordem suprema que autoriza a existência do crime. a transgressão, além de se despontar como ato, é humana, perversa, plena, suja, libertária, horrorosa. é o urro mais primitivo e sincero, que não se mostra como signo aos outros. corpo algum resiste ao tremor e frenesi que a paixão pela ruína desperta: a violência é a forma de amor mais gentil; só se concebe sexualidade a partir da decadência, da diferença em si e de si, como as lacunas de morte que a transição do tempo disfarça. o marco da descontinuidade possibilita os mistérios da obediência, os tratos adequados ao outro, a atuação dos afetos silenciados, o amor e sua aniquilação fundamental, o gozo impossível, mas mirado. mas não o sexo. o sexo é ilusório, dá sensação de haver algo contínuo e contíguo ao "para além do limite". como humanamente sexual, é preciso haver o flerte entre o erótico e o transgressivo - ou, de outros modos, saber-se assassino e mortal, apesar das experiências extremas do corpo. o ódio é osso, instrumento primevo que possibilita matar. o ódio é a morte encarnada sem que se precise morrer.