13 de fevereiro de 2014

moça do telemarketing,
a vida costuma não ponderar o peso da mão quando nos bate. este labirinto que percorremos descalços, esta luta desarmada que temos que travar com os leões: precisamos de esperança. o cotidiano é guiado por um deus também cansado, enquanto que nos finais de semanas temos de nos linchar em um hábito autolesivo qualquer para poder seguir mais um pouco, sem promessa alguma de descanso. mas escrevo em nome de um pedido sincero. peço a você que perdoe o mundo. não tome a mim como alguém especialmente designado neste acaso dos números telefônicos que rondam a sua lista triste de clientes não aborrecidos. recuso compadecido este novo plano de cartões de crédito decorrente da parceria da empresa telefônica x com o banco y, mesmo sabendo que com este cartão o valor de minhas compras seria convertido em pontos que poderiam ser trocados por milhas de viagens solitárias ou celulares igualmente solitários. sem falar nos juros baixíssimos, quase próximos à nossa tristeza. por tanta vantagem assim, não posso amar por menos. se interrompo o seu discurso monotônico gentilmente para expor minha estúpida postura, é para poupar seu tempo e sua voz, meu tempo e minha voz. a indignidade do seu trabalho confrontada a seco pela minha agressiva misericórdia. perdoe. a mim e ao mundo. a esperança inesperada ainda irá nos mostrar que o dia é bonito, que a coisa tem jeito. por agora, só tenho a oferecer um pouco de ombro nesta dureza. meus votos: que o acaso lhe permita um ouvido atento, um possível número a menos em suas cotas diárias de venda. que a inesperança não nos mate antes do tempo de morrer. que o deus durma para que, enfim, possamos dormir também.
de seu cliente e consumido consumidor,
um abraço.