3 de setembro de 2014

na grande festa de todas as máscaras, fui de rosto nu à espera de reconhecimento pela coragem, pela audácia de romper com o código e a etiqueta, burrice sem tamanho de não me precaver, não contra os outros, mas contra a música que me entregaria ao devaneio e ao riso particular das seguintes horas vagas, fui servido de pensamentos angulosos que não me desciam à boca, mas ao estômago que se mastigava em compreensão,

na grande fresta de todas as máscaras, os olhos a me julgarem em silêncio, como se não me fosse permitido estar ali sem o que mais me faltava – mal sabiam que por trás da máscara de peles havia uma máscara de carnes que por trás havia uma máscara de ossos que por trás havia uma máscara de vísceras que por trás havia uma máscara de nadas –, algumas aberturas de boca se fechavam ou contraíam ao me ver ali, sem véu ou contraponto para dizer o que não sou, um pequeno incidente a me fazer destoante, mas ainda pertencente, da massa que tanto me denotava e me destacava despido, mas não denunciado – qual meu compasso se me desfaço pelo som?,

na grande máscara de todas as frestas, eu em um esforço de deus a me fazer lugar-comum, a dançar sem jeito as músicas que davam prazer aos mascarados e a mim inclusão, lugar delimitado, território, espaço, horizontalidade possível, o aleph que borges teve de ceder à eternidade para se fazer dobrar, eu fingindo relação e passos, eu que era também tão máscara na vida comum quanto qualquer um ali que tenha elevado a ocasião da festa em "uma noite especial", que vício avesso à virtude,

na grande máscara de todas as festas, tive de esperar pela minha música, a minha hora, se não há espaço, é de se sentar e esperar, dizem que a hora chega, fui munido de razões destras que a premeditação contra o mundo me fez criar o costume de inventar, sem cautela e burro, em busca de reconhecimento pela coragem e pela audácia, pura angústia diante dos outros, mas sustentado por conversas nervosas porém ponderadíssimas, ponderadíssimas, eu tinha um rosto para sustentar a sujeira que é o próprio rosto sem vestimentas,

mas em que lugar me fiz oculto, sem contar com os esparsos abraços que dei em falsa companhia, a companhia das paredes ou dos corpos que rejeitei, sem contar com a música que me nomeava e me velava sem prumo, sem contar com a nomeação inesperada, o assalto de rhythm is a dancer, it's a soul companion, you can feel it everywhere, lift your hands and voices, free your mind and join us, you can feel it in the air.