14 de outubro de 2014

da escada que dava acesso do corredor ao pátio da escola, ficamos no começo, no meio e no fim. no começo, nossa identidade girava em torno dela e das nossas interações: ou sentados, ou brincando com os degraus, ou abraçados aos corre-mãos; estávamos ou sentados um nos outros, ou brincando de carinhos, ou abraçados. esperando qual palavra para sossegar nossos conflitos de adolescentes. no escuro do corredor, imagem tosca para nossos medos, as confissões, os desabafos, as conversas bobas. acabamos por acidente amando com força demais. no meio, nossa companhia começou a se tornar intolerável: proximidade não implica intimidade e, portanto, guardávamos certo respeito tedioso em consideração ao bom convívio. os encontros permaneciam fiéis, mas a escada testemunhava nossos silêncios. os desentendimentos começaram a surgir em nome de uma impaciência frente aos turnos, cada qual ali contando com uma vez, uma exceção, para se pôr único no mundo. ninguém sairia ileso. acabamos por acidente amando somente por distração. no fim, nossos rumos foram traçados a partir da separação eminente. as preguiças, os humores, a obrigatoriedade implícita de manter o que éramos nós: dissolução; cada qual com a sua vida inimaginável mas óbvia. do que éramos nós ficou uma promessa de juntar novamente, fortuna qualquer que viria a coincidir em um futuro já de adultos. "lembra da escada? tempo bom". acabamos por acidente amando sem comoção e responsabilidade.