15 de setembro de 2013

Cabeça vazia ou Do sonho que nunca terei

(da quadra dos homens que choram, apenas eu poderia tê-lo sonhado: os dois do 'som' estão mortos, o outro se matou na experiência onírica real, e eu prossegui; segue aqui o meu relato fantasmático revertido pela culpa.)
na primeira casa em que morei ao me mudar. tenho, por algum motivo, que ir à casa da vó (ver, talvez, a morte configurada). condição de ida: o suicídio. deliberação: morro e vejo a casa: não morro e permaneço. opto por morrer (e ir): dou-me um tiro ou um lance de guilhotina ou foice ou machado ou uma artéria importante gentilmente cortada. pouco importa o veículo, desde que seja um feito capital. impossível experiência de minha própria morte registrada como um movimento rápido, imperceptível em fatos concretos além da certeza de ter morrido. na dita casa, não permaneceria barrado nos portões trancados a ver as janelas e portas abertas entre os espaços das grades: o infantilismo dos espíritos que atravessam a matéria me permitiria avançar - condição nova e tosca - e lá poderia visitar todos os cômodos, tocar todas as paredes, deixar no chão o rastro de minha língua que persistiu em lamber toda a poeira da memória intacta e chorar a ausência de livros em uma casa de família de grande inteligência.