11 de dezembro de 2014
misstereee
a iniciação ao mistério: a mostração de uma verdade essencial, de uma coisa escondida que se revela. o sentido oculto que permite àquele que foi iniciado uma aprendizagem sobre o corpo e sobre a alma.
condições: experiência de quase-morte e de renascimento subseqüente. só se adentra ao mistério a partir do desconhecimento e do profundo sentimento de que há algo a ser consagrado ao nível do corpo (olhos cerrados, boca fechada), algo que não encerra a totalidade da alma.
o ensinamento apreendido concerne à sexualidade: por aquilo que é convocado ao nível genital não comparecer como registro de diferença, como marca singular de determinação, o homem é iniciado à angústia como a verdade dos sexos.
8 de dezembro de 2014
13 de novembro de 2014
faticidade
envoy (s): messenger; message, sending; one sent.
na testagem do canal de comunicação, importa-se o estabelecimento de um meio, apresentando provisoriamente a mensagem como preenchimento e brinde enunciativos. primariamente, ela serve para abrir uma trilha, acabando por pairar em busca de destinatários. no entanto, uma vez conquistado o canal, o que dirige o traçado de seu caminho aberto é a angulosidade da mensagem.
mas o que se envia em uma mensagem? palavras, intenções, gestos, o ser.
em um poema, diz-se que o envoi é um fecho de endereçamento e despedida, em busca de possíveis leitores, meio-fim/canal-destinatário por excelência. depois da labuta criativa, o lançamento.
em uma conversa, diz-se que há um assunto latente aos turnos. algo (a mensagem) que diz sobre algo (o assunto) de algum modo (a fala). quando ocorrida pessoalmente, a interação se enriquece e a transmissão verbal do enunciado escapa à articulação dos canais possíveis. a espera do receptor também funciona como um regulador do endereçamento do emissor; daí se conclui que a mensagem se modula de acordo com e está suscetível às reações do receptor de um modo quase involuntário, ainda que a comunicação seja muito monitorada. toda conversa é uma dança de apertos e frouxidões. a demora na emissão da mensagem é também seu próprio envio: uma vez formado um canal, as vésperas da mensagem é também mensagem; algo já se enuncia antes de se dizer de modo articulado. de modo mais radical, a ausência de mensagem é também mensagem. fala-se somente na medida em que se espera ser escutado; nesse sentido, o receptor não precisa ser necessariamente algo ou alguém imediato ou presente. às vezes, a mensagem importa pouco em uma conversa, tornando-se apenas um pretexto que surge no percurso (a conversa mole) para o estabelecimento de um canal (conexões, intimidades, afetos, curas). quando enviada, a mensagem pode se confundir com o mensageiro. como resposta, o que sempre se espera é pelo corpo de palavras do Outro, que reage e reconhece aquele que(m) fala como digno de linguagem. a faticidade do emissor é a ética do seu receptor e vice-versa. conversar é a possibilidade de abraçar formas de alteridade dentro de si, rotineiras, absurdas, conhecidas, estrangeiras, domesticadas, insubmissas, etc.
9 de novembro de 2014
7 de novembro de 2014
4 de novembro de 2014
19 de outubro de 2014
14 de outubro de 2014
10 de outubro de 2014
5 de outubro de 2014
o lago
29 de setembro de 2014
7 de setembro de 2014
3 de setembro de 2014
na grande fresta de todas as máscaras, os olhos a me julgarem em silêncio, como se não me fosse permitido estar ali sem o que mais me faltava – mal sabiam que por trás da máscara de peles havia uma máscara de carnes que por trás havia uma máscara de ossos que por trás havia uma máscara de vísceras que por trás havia uma máscara de nadas –, algumas aberturas de boca se fechavam ou contraíam ao me ver ali, sem véu ou contraponto para dizer o que não sou, um pequeno incidente a me fazer destoante, mas ainda pertencente, da massa que tanto me denotava e me destacava despido, mas não denunciado – qual meu compasso se me desfaço pelo som?,
na grande máscara de todas as frestas, eu em um esforço de deus a me fazer lugar-comum, a dançar sem jeito as músicas que davam prazer aos mascarados e a mim inclusão, lugar delimitado, território, espaço, horizontalidade possível, o aleph que borges teve de ceder à eternidade para se fazer dobrar, eu fingindo relação e passos, eu que era também tão máscara na vida comum quanto qualquer um ali que tenha elevado a ocasião da festa em "uma noite especial", que vício avesso à virtude,
na grande máscara de todas as festas, tive de esperar pela minha música, a minha hora, se não há espaço, é de se sentar e esperar, dizem que a hora chega, fui munido de razões destras que a premeditação contra o mundo me fez criar o costume de inventar, sem cautela e burro, em busca de reconhecimento pela coragem e pela audácia, pura angústia diante dos outros, mas sustentado por conversas nervosas porém ponderadíssimas, ponderadíssimas, eu tinha um rosto para sustentar a sujeira que é o próprio rosto sem vestimentas,
mas em que lugar me fiz oculto, sem contar com os esparsos abraços que dei em falsa companhia, a companhia das paredes ou dos corpos que rejeitei, sem contar com a música que me nomeava e me velava sem prumo, sem contar com a nomeação inesperada, o assalto de rhythm is a dancer, it's a soul companion, you can feel it everywhere, lift your hands and voices, free your mind and join us, you can feel it in the air.
28 de agosto de 2014
secura
21 de agosto de 2014
o problema do elogio
16 de agosto de 2014
perto dos trilhos
apito do ar, lá vem
susto do vão, lá vem
longe do mar, lá vem
"não, joão, mas cá, é lar?"
pra quem? alguém? o quê? também?
o trem, o trem, o trem, o trem
12 de agosto de 2014
10 de agosto de 2014
estudo sobre homens femininos
3 de agosto de 2014
quando viagem
17 de julho de 2014
da gata, minha
como se lê com presa e pressa envolta?
vento cortina folhinhas
obstáculos para mim
brinquedos para ela
como se lê com outro em volta?
miadinhos cabeçadas patinhas
carinho à força
tudo que se faz interrupção
mais interessante é que o livro
quando sou ser brincado
pelo animal
29 de junho de 2014
Unheimliche
26 de junho de 2014
20 de junho de 2014
14 de junho de 2014
10 de junho de 2014
1 de junho de 2014
estudo sobre roupas femininas
27 de maio de 2014
duplo
24 de maio de 2014
convite
18 de maio de 2014
10 de maio de 2014
toinha me ensinou a fazer comida, limpar, varrer, passar, dobrar. me batia com chinelo.
maria fazia comida mais gostosa na própria casa (fritava bolinhos-de-chuva, punha louro no feijão). surrava os filhos por qualquer coisa.
antônia era completamente imatura: me ensinou a roubar no supermercado e levava a sério meu desvario de criança.
mara se deixava enganar por mim. arranjou um paquera no chat da uol e ficou horas no telefone de casa. foi demitida no dia seguinte em que a dedurei.
linda era discreta, mas soltava o gogó com o rádio ligado. era evangélica e se escondia por trás de deus.
rita era a mais querida pela família. chupava e rodava a dentadura na boca após terminar de comer – dispensava o palito de dente sempre.
maria josé parecia um passarinho de tão frágil. gostava de ver televisão e se impressionava fácil com os noticiários.
ubaldina varria o chão com força. era muito desbocada, o que divertia meu avô. fez um caldo com o zézinho, galo troncho de gordo que criei a partir do projeto de "consciência parental" da professora de ciências.
abadia fumava séria no pé da escada da cozinha, "tirando uma fumacinha". dava em cima do meu tio em busca de uma vida melhor, mas não conseguiu muita coisa.
mirena era muitíssimo amada. contava histórias do filho que fazia enfermagem e do marido que era caminhoneiro. chorava escondida de saudades.
ana se diverte com as desgraças da vida alheia e sabe conversar sobre ônibus como ninguém.
domésticas, diaristas, empregadas, diaristas, faxineiras, babás... o que escrevo de memória não dá conta de suavizar retrospectivamente o trabalho, muitas vezes duro e mal pago. posso, além de me desculpar um pouco, lamentar a vida junto, a partir desse lugar um tanto constrangedor de pessoa servida, às vezes opressora sem saber/querer, ou, pior, até sabendo. querendo, nunca. perdão. e obrigado. por tudo.
6 de maio de 2014
3 de maio de 2014
24 de abril de 2014
detesto a leitura em voz alta de poemas.
detesto o tom de importância dado
a cada palavra pronunciada.
detesto a cadência e a decadência
de um verso saltado a outro.
detesto os olhos a acompanhar o fio do percurso
– e suas molduras de sobrancelhas em seleções
e arqueios de passagens ensaiadas, ganchos pensados.
(adoro os lapsos, os gaguejos, o nervosismo).
detesto o silêncio consentido do outro
para que enfim se performe o poema
e seja revelado um sentido
ao pé da letra ou ao pé do poeta.
detesto a modulação da voz de acordo
com o surgimento proposital dos jogos de linguagem,
sinalizando a esperteza, o espírito.
detesto a atmosfera cerimoniosa de vibração muda,
silêncio comunicativo, oxímoros vãos.
detesto a arrogância da leitura findada
e o pousar do texto nos ouvintes, teatro da sensação:
mãos recolhidas, queixos para o teto, para o chão,
livro fechado: todos meio abobados,
insinuando profundidade e meditação.
20 de abril de 2014
mímesis
19 de abril de 2014
des(velo;leixo)
2. ato de ruptura com o véu, expondo e fazendo conhecer; ato de pôr(-se) à vista. metaforicamente, lançar luz, tornar claro, elucidar.
3. ato de privação de sono em nome de uma vigilância; ato executado com empenho e diligência.
1. falta de atenção, de apuro, de trato, de esforço, de ânimo, de atividade.
2. ato de descuido ou abandono de si ou do outro por negligência, preguiça, indolência, inanição.
que a distância não nos torne descampados selvagens,
que a unidade não nos isole em solidezolidão,
que a proximidade não nos confunda em alteridade.
15 de abril de 2014
não sei escrever para fora IV
13 de abril de 2014
fenomenologia do branco
29 de março de 2014
vóz vi
25 de março de 2014
21 de março de 2014
13 de março de 2014
estudo sobre brincos femininos
8 de março de 2014
exobjeto
6 de março de 2014
hermeneuta afetado traduzindo i will wade out de e.e.cummings
vou ao vau
até que minhas coxas rocem como flores incandescentes
Vou suster o sol em minha boca
e saltar ao ar maduro
Plena
d'olhos fechados
para lançar contr'a escuridão
das dobras dormentes do meu corpo
Que entrem os dedos de sutil mestria
com castidade de sirenas
Irei preencher o mistério
de minha carnadura
Vou ascender
Depois de milanos
flores
labiais
E cravar meus dentes no prateado da lua
em prosa:
tendo o sexo diante de mim, à margem estou e à outra me dirijo. rota corrente, pés oscilantes no leito arenoso, calor do piso incerto de flores. mergulho os dedos em mim. abro os olhos, abro a boca. vejo, engulo. cheio. fecho os olhos. descubro meu corpo no negrume inabordado das águas. que me abracem os monstros da morada doce com seus gestos gentis. dúvida: assim tenho a unidade do mentecorpo? assim tenho a unidade do mentecorpo: depois, no tempo das flores labiais, vou com dentes emergir em águas rumo ao luar que incide na superfície plana do gozo.
2 de março de 2014
co-sideração
26 de fevereiro de 2014
22 de fevereiro de 2014
18 de fevereiro de 2014
vóz v
15 de fevereiro de 2014
meu nome secreto é convidado se venho sozinho a este posto é porque me permito só já que as contingências são próprias e também próprio me sou banco o rosto que tenho ponho-o à frente de qualquer lesão que o mundo me desfira aguardo pelo murro porque também quero dá-lo
meu signo é siderado pelos piores cálculos mas conto com o bom trato dos interpretantes em sua apreensão material do que mostro como objeto representado se aqui abro em flor meu desejo é para ter como garantia minha própria insatisfação
meu corpo não registra memórias fulgurantes de um trauma fantasiado se tenho os pontos específicos é porque me permito dentro das confluências do destino a portar esta pele este casco este metal que faço máscara disforme para existir dentre nós podendo então chamar o sintoma de disjunção necessária à existência.
13 de fevereiro de 2014
a vida costuma não ponderar o peso da mão quando nos bate. este labirinto que percorremos descalços, esta luta desarmada que temos que travar com os leões: precisamos de esperança. o cotidiano é guiado por um deus também cansado, enquanto que nos finais de semanas temos de nos linchar em um hábito autolesivo qualquer para poder seguir mais um pouco, sem promessa alguma de descanso. mas escrevo em nome de um pedido sincero. peço a você que perdoe o mundo. não tome a mim como alguém especialmente designado neste acaso dos números telefônicos que rondam a sua lista triste de clientes não aborrecidos. recuso compadecido este novo plano de cartões de crédito decorrente da parceria da empresa telefônica x com o banco y, mesmo sabendo que com este cartão o valor de minhas compras seria convertido em pontos que poderiam ser trocados por milhas de viagens solitárias ou celulares igualmente solitários. sem falar nos juros baixíssimos, quase próximos à nossa tristeza. por tanta vantagem assim, não posso amar por menos. se interrompo o seu discurso monotônico gentilmente para expor minha estúpida postura, é para poupar seu tempo e sua voz, meu tempo e minha voz. a indignidade do seu trabalho confrontada a seco pela minha agressiva misericórdia. perdoe. a mim e ao mundo. a esperança inesperada ainda irá nos mostrar que o dia é bonito, que a coisa tem jeito. por agora, só tenho a oferecer um pouco de ombro nesta dureza. meus votos: que o acaso lhe permita um ouvido atento, um possível número a menos em suas cotas diárias de venda. que a inesperança não nos mate antes do tempo de morrer. que o deus durma para que, enfim, possamos dormir também.
de seu cliente e consumido consumidor,
um abraço.
11 de fevereiro de 2014
estudo sobre sapatos femininos
6 de fevereiro de 2014
folie, adieux
2 de fevereiro de 2014
algumas frugalidades:
dormir depois do almoço em um quarto levemente escurecido.
comer pão-de-queijo quente.
escovar os dentes e beber água mineral em seguida.
tomar banho gelado e vestir roupas limpas e frescas em dias quentes.
cortar as unhas das mãos e dos pés.
alongar as costas depois de muito tempo sentado.
reler um bom conto.
acordar com o calor e a luz do sol no rosto.
cheirar a grama recém-cortada.
dar cabo aos gases do corpo sem ter de se preocupar.
conseguir fazer algo que era julgado difícil de maneira fácil e simples.
ter gatos como companhia enquanto se faz alguma atividade doméstica.
cheirar pedra quente.
nadar em uma piscina aquecida em dias frios.
apagar as luzes antes de se deitar.
30 de janeiro de 2014
extra vagância
23 de janeiro de 2014
vóz iv
21 de janeiro de 2014
o céu de brasília é feminino que se maquia para no fim se limpar
o céu de brasília é conversa
o céu de brasília é desse que faz contorno aos murmúrios
o céu de brasília é mesmo solidão
o céu de brasília é copo d'água pra sede
o céu de brasília é hospitaleiro que não faz vista de chinelo ou sapato
o céu de brasília é beijo de boca seca
o céu de brasília é de uma fome por afeto
o céu de brasília é mar imaginado
o céu de brasília é desse que abraça para evitar contato